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Na foto acima, Antônio Mariano, da HP, (à esq), Antonio Luis Amadeu, da Microsoft, (centro), Vinícius Roveda, da Conta Azul, (à direita), Aldilene Guirau e João Carlos Nogueira Guirau, ambos da Blocktime Tecnologia, (em pé) – Foto: Marcos Ferreira
Ao longo dos últimos anos, a tecnologia passou a se render a uma nova forma de armazenamento de dados, a cloud computing, ou no bom português, computação em nuvem. Esse sucesso de popularidade não é à toa.
Inúmeros são os benefícios de se optar por uma ferramenta cloud. A flexibilidade de ter acesso aos seus dados em qualquer lugar, bastando somente ter uma conexão com a rede mundial de computadores, é um dos pontos mais bem avaliados.
O baixo preço e a possibilidade de encontrar formatos que atendam à carência do seu negócio é outro diferencial que agrega valor e dinamiza os processos internos. Com os servidores locais (físicos) você tem poucas opções de espaço, além de ser obrigado a encarar o alto custo da compra ou locação de equipamentos.
Um ponto bastante questionado pelos novos adeptos da ferramenta se refere à segurança. Muitos se perguntam se é realmente garantido que os arquivos não serão violados ou perdidos. Graças às políticas internas das empresas, esse risco é mínimo, para não dizer zero.
Para João Carlos Guirau, diretor da Blocktime Tecnologia, estar na nuvem já não é mais uma opção a ser pensada, mas o único caminho a ser seguido. “Se ele (profissional ou empresa) não está na nuvem é porque está atrasado”, afirma.
Conversamos com Guirau sobre diversos pontos acerca do assunto, como a criação do conceito nuvem, a adaptação das empresas a esse meio de armazenamento de dados, os gargalos tecnológicos no Brasil e como a ferramenta está presente na rotina dos profissionais de seguros e planos de saúde.
TN – Para as pessoas que não têm familiaridade com novas tecnologias, você pode nos falar como e de que maneira a nuvem surgiu?
João Carlos Guirau – O termo computação em nuvem não é uma coisa nova. Ele é um conceito criado na década de 1960, quando houve um crescimento da utilização de computadores em todo o mundo. Pequenas e médias empresas passaram a ter acesso aos equipamentos por meio de compartilhamento, para gerar operações de todo o tipo. Nessa época, as empresas registravam seus dados em formulários e mandavam para um centro de processamento que usava uma única máquina para processar serviços de diversos clientes. Ou seja, já tinha um compartilhamento de computadores, que na ocasião era algo caro.
O advento do microcomputador, na década de 80, deu poder de processamento para as instituições. Na década 90 surgiu a necessidade de interligar essas máquinas e apareceu o custo da aquisição de equipamentos, servidores. O valor ficou cada vez maior para manter essa estrutura. A administração de tudo isso é cara. A partir de 1995 surge a internet comercial, quando acontece um boom da microinformática, invadindo o dia a dia das pessoas.
TN – Em que momento isso mudou?
Guirau – Por volta de 2000 começa a se perceber que boa parte dos servidores comprados pelas empresas estava ociosa, com equipamentos com uso abaixo de 20 a 30%. A partir daí nasce um conceito de virtualização que vem da seguinte maneira: de dentro de uma máquina física eu consigo separar as máquinas lógicas e compartilho os recursos que eu tenho dentro de uma única máquina central.
Isso permitiu que uma empresa conseguisse alugar um poder computacional na medida da necessidade do contratante. É mais ou mais menos como traçar um paralelo ao consumo de energia elétrica. Quando eu preciso de mais energia eu ligo meus equipamentos, acendo meus interruptores conectados à rede e, automaticamente, sou provido de mais energia para poder utilizar os recursos. Daí eu tenho um atendimento sobre demanda.
A computação na nuvem usa o mesmo modelo da década de 60, mas criaram-se novos serviços – a exemplo do correio eletrônico. Eu tenho meu servidor, vou no meu provedor de internet, contrato um serviço de caixas postais, conhecido como POP e a partir daí recebo minhas cartas postais e baixo no meu computador. Ou seja, ele era utilizado apenas como correio. E se eu perdesse esse computador, o que acontecia? Pela aumento da importância dessa rotina, era necessário preservar essas informações.
Começa a se ter um serviço de melhor qualidade, com essas mensagens eletrônicas armazenadas diretamente nos servidores, sem a necessidade de baixá-las para as máquinas, aumentado a segurança e possibilitando o acesso de qualquer lugar. Um dos fatores de crescimento do Google se deu muito por conta da plataforma do Gmail, que possibilitava essa inovação de forma gratuita.
TN – De que maneira a nuvem está presente na rotina das pessoas?
Guirau – A acessibilidade na nuvem é um dos principais fatores dessa popularização. A partir do momento que eu preciso de mais segurança e mais armazenamento eu tenho de pagar por isso. A gente conhece a nuvem no dia a dia das pessoas pelos serviços de e-mail e posteriormente pelos serviços de armazenamentos de arquivo como o Google Drive, o Dropbox, iCloud, etc. As pessoas já usavam as ferramentas de nuvem há muitos anos, mas isso não era encarado pelas empresas como algo seguro, pois elas não podiam controlar seu uso e administração.
Com o desenvolvimento de grandes data centers e o aumento da segurança em relação aos dados, se passa a fornecer esses serviços para as empresas. Ao invés de eu investir em um servidor para comunicar dados para o meu negócio, além da contratação de pessoal especializado ou por meio de terceirização, eu contrato um serviço, o que gera um menor custo e com a vantagem da elasticidade. Meu negócio pode crescer e eu uso esses recursos na medida da minha necessidade, pagando especificamente pelo uso.
TN – Você acredita que as empresas já entenderam a importância de migrar do local para o virtual?
Guirau – Houve uma quebra de paradigmas em 2012. Naquele ano a Microsoft lançou novos produtos e ajudou a propagar que o mundo está indo para a nuvem. Ela mudou seu próprio comportamento e disse: “os meus produtos estão sendo concebidos e comercializados de maneira que eu possa levar mais pessoas para a nuvem e para que elas guardem cada vez menos coisas em casa”. Durante os últimos anos, a Microsoft desenvolveu a plataforma Office 365 e acompanhou algumas inovações do Google, o que possibilitou que as pessoas tivessem acesso a todos os seus arquivos, correios, apresentações, usando um computador, tablet, smartphone, apenas com um browser, uma ferramenta básica sem precisar armazenar nada. Tudo passou a ser guardado em grandes data centers, seguros e com acesso em qualquer parte do mundo.
As empresas passaram a olhar para isso de outra maneira. Essas grandes corporações, por questões de segurança, integridade e investimento feito ao longo dos anos em equipamentos e centro de processamento de dados, tiveram um movimento muito mais lento de adoção da nuvem do que pequenas e médias empresas. Muitos negócios que nasceram há cinco anos, por exemplo, já surgiram dentro da nuvem. Eles não sabem o que é ter um CPD ou um servidor próprio.
Um dos grandes provedores destes serviços foi a Amazon. Quando ela lançou sua loja, criaram para isso um centro de processamento de dados gigantesco. No meio desse processo, eles perceberam que poderiam oferecer como serviço a capacidade de armazenamento de toda essa estrutura que foi montada para alguém que quisesse criar sua loja e usar a Amazon como plataforma de desenvolvimento de sites e dados. Isso foi oferecido em um primeiro momento para seus próprios clientes. A partir daí você vê empresas criando lojas que hoje são somente virtuais, que elas só desenvolveram em cima de nuvem. Não colocam um servidor dentro de casa.
TN – Quem pode garantir essa segurança?
Guirau – Hoje não há nenhuma entidade fiscalizadora, mas o que há são padrões de mercado baseados em certificações de segurança que as empresas usam para garantir a integridade do seu negócio. A tecnologia evolui muito mais rápido que a legislação. É interesse deles terem certificações com nível de segurança elevado para conseguir comercializar seus produtos. A legislação hoje protege o acesso à informação, que impede o vazamento.
As interpretações das leis podem até divergir, como no exemplo recente em que um juiz bloqueou o acesso ao WhatsApp no Brasil com a alegação de que precisava de informações que eles não cederam à justiça. Uma falha de segurança? Não, muito pelo contrário. A empresa é um meio, mas ela não detém as informações. É como se a Telefônica fosse impedida de exercer seus serviços por não permitir que se interceptasse uma gravação.
As empresas muitas vezes sequer possuem um meio e armazenamento. Pode ocorrer algo? Pode. Mas esse é um risco que elas não querem correr. O vazamento de uma informação arranha a credibilidade de uma instituição.
TN – Um dos atrativos em torno do cloud se refere ao preço. Você pode fazer um breve comparativo em relação aos custos de um servidor físico comparado a um serviço em nuvem?
Guirau – Vamos imaginar que uma empresa tenha 10 computadores e eu precise de um servidor para armazenar as informações do dia a dia. Para ter um servidor de uma empresa de boa qualidade, por exemplo a DELL, com garantias, somado a compra de HD para backup, a contratação de um serviço para armazenamento externo das informações, além da contratação de alguém para gerenciar tudo isso, eu não vou gastar menos que R$ 10 mil. Além disso, adicione o valor mensal para administração dessa estrutura, algo em torno de R$ 500 a R$ 1.000 por mês.
Em contraponto, se eu compro uma licença do Office 365 com um servidor em que eu possa guardar os meus arquivos e compartilhar esse material, eu utilizo essa licença instalada na minha máquina ou uso ela virtualmente através do meu browser. Eu vou investir em torno de R$ 55 individuais por mês, o que fecha para 10 usuários por volta de R$ 550 mensais. Além de que a cada inovação que a Microsoft desenvolver ela vai me fornecer automaticamente por esse mesmo custo. Esse é um dos aspectos que me faz garantir que a nuvem é um caminho sem volta.
TN – Muita gente atribui que alguns profissionais de TI perderam emprego por conta do cloud. Você concorda?
Guirau – Existe uma frase de Darwin que diz o seguinte: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. Outra frase popular diz “que a tecnologia não rouba o emprego de ninguém, mas ela modifica a forma de se trabalhar”. O que eu enxergo é que se os profissionais de TI não evoluírem, não entendendo que há uma mudança que vai se acentuar nos próximos quatro ou cinco anos na forma de prestar serviços, ele vai perder seu emprego. É uma questão de querer evoluir ou não. O profissional tem de saber que ele precisa entender de nuvem, de processos, negócios, etc. Ele terá de aprender muito mais como uma empresa funciona, os seus processos internos, do que entender o funcionamento de um servidor ou uma ferramenta.
Você terá sempre profissionais que vão administrar esses grandes data centers, mas a maioria vai atender os usuários finais, às empresas. E este precisará sair desse modelo de assistência técnica e terá de imaginar como seu cliente vai utilizar os recursos da nuvem, mostrando como o usuário poderá se apropriar desses meios de forma mais produtiva. Ele não vai mais lá instalar um software, um aplicativo. O equipamento será totalmente descartável. Quebrou? Eu jogo fora, compro outro, coloco meu usuário e senha e volto a ter o controle dos meus dados.
TN – No Brasil ainda há muitas empresas para tomar esse novo rumo da nuvem ou já é uma realidade para a maioria?
Guirau – Nós temos no Brasil um problema muito sério que está nos impedindo de ir para a nuvem, que é qualidade das nossas operadoras de telecomunicações. O grande gargalo hoje de uma nova adesão de nuvem é o baixo desempenho da nossa internet. As empresas estão migrando parcialmente para a nuvem, mas mantendo as informações armazenadas localmente por conta disso. Ainda há um receio das pessoas. Chega a ser curioso o paradoxo que existe da qualidade do serviço se pensarmos que o próprio governo exige do contribuinte que tudo seja feito eletronicamente. Corrigindo essa lacuna de infraestrutura, será mais fácil para as empresas adotarem as soluções da nuvem, assim reduzindo seus custos e melhorando a produtividade.
TN – Nós falamos muito dos pontos positivos do cloud, mas existem situações em que utilizar um servidor físico é mais vantajoso e por quê?
Guirau – Segurança e integridade. É importante sempre ler os contratos para saber as garantias que você tem para migrar seus dados. As grandes corporações passaram a adotar um modelo que chamamos de híbrido, na qual parte das informações está armazenada em terceiras, outra parte, as estratégicas ou fundamentais para o negócio, localmente. Mas para uma pequena ou média empresa não faz o menor sentido você armazenar uma estrutura dentro de casa. Você tem a flexibilidade de expandir de acordo com suas necessidades, com segurança e por um custo bem mais acessível.
Antes, no começo da era bancária, as pessoas tinham medo de deixar seu dinheiro em um banco, com receio de perder ou ter suas economias trocadas por um pedaço de papel sem valor. Com a computação em nuvem é a mesma coisa. A solidez das empresas de computação em nuvem é que vai determinar o nível de segurança e a qualidade do serviço que ela está te oferecendo. Daí virá sua credibilidade.
TN – Para o profissional que lida com corretagem de seguros ou consultoria em planos de saúde, como o cloud pode ser benéfico a ele?
Guirau – As operações nesse mercado têm de ser totalmente online. Para o corretor, a questão não é se ele vai para nuvem. Se ele não está na nuvem é porque está atrasado. Ele precisa automatizar processos e compartilhar as informações de forma que possa fazer seu trabalho de qualquer lugar, a qualquer instante.
A versatilidade é essa, é o acesso às ferramentas e informações sobre seus negócios e clientes sem barreiras. Ele tem uma série de necessidades que o exige estar antenado e utilizando recursos de tecnologia.
Praticamente todas as seguradoras e operadoras de saúde trabalham de maneira totalmente online atualmente. O profissional de seguro deve usar ferramentas para cuidar da administração e venda do seu serviço. Um exemplo de meio facilitador é o sistema fornecido pela TN, o Moltrio, algo específico para a área de corretagem de seguros coletivos e consultorias de benefícios. Trata-se de uma ferramenta que ajuda guardar os dados para que o profissional administre toda a sua carteira de clientes, da prospecção à gestão das demandas de seus clientes e beneficiários.
João Carlos Nogueira Guirau trabalha com Tecnologia da Informação há 27 anos e já prestou serviços para empresas como BRADESCO, COFAP, SESI e FIESP. Foi coordenador do curso de MBA em Gestão de Rede de Computadores na FIAP entre 2005 a 2012 e, atualmente como sócio da Blocktime Tecnologia, desenvolve e implementa projetos para gestão e monitoramento de redes de computadores, provendo serviços de manutenção e suporte técnico.
É entusiasta e disseminador dos conceitos sobre computação em nuvem, Big Data e Internet das Coisas.
Por Marcos Ferreira / IAE Brasil
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